Carta para amiga Helena Bonito
SP
31/08/73
Querida Helena,
Não posso ir ao teu casamento por
vários motivos...
Helena, eu ando triste. Sei que não vais ficar sentida. Tu me compreendes. Eu te conheço. Eu estarei aí, estaremos...
A minha Alegria é do mesmo tamanho da dos outros que te amam, sempre fui tua amiga mãe.
Lembras-te da Linha Reta? Quando te conheci tu estavas nela sem poema.
Com a minha melodia de Cigarra-Formiga, eu embalei teus passos, uniformizei e acelerei a caminhada. Aumentei a pista a pinceladas rítmicas para que hoje dances de mãos dadas sem algemas isoladas. Muitas vezes, tu ias na frente, carregando a carga, seguida pelo canto da velha cigarra. E na fila, tu me escondias e dizias às Rainhas, ela também é Formiga. E no formigueiro, dividias comigo a seiva do verde tenro e misturávamos no ninho, a massa cinza.
Perpetuei a tua alegria de hoje e de sempre dentro de mim e usei uma muralha para defendê-la da minha presa-tristeza. Não posso misturá-las para não diluir o Rosa no quadro Negro. Seria um crime. Por isso apesar de imensa e positiva, essa emoção é impotente para me deixar menos triste. Esta emoção é livre!
Helena, tenho medo que no momento dos festejos, a muralha desmorone em lágrimas, que o dique me traia... E eu, escandalize os presentes confundindo a noiva com a viúva de marido vivo. Nada de expressionismo! Neste objeto abstrasto, não devo integrar-me para não maculá-lo.
Querida amiga, a tua felicidade não me é afronta; é sinceridade, é coragem, é aveso de alma. A ti não escondo nada. Jamais te esquecerei. Também não é adeus.
Desejo lembrar-te com as calças desbotadas, os cabelos lisos, a boca rasgada de gargalhada... azulando da aula... tomando chá a prestações para pagar no fim do mês o homem do bar com o olhar azul-bebê. Dentro do carro merendando comigo uma prova –milagre, quebrando o galho do francês, orgulhando a coruja-portuguesa na platéia, eternamente enferrujada à Flor do Lácio.
Desejo lembrar-te no meu quarto sem grupo num abraço, quando todas fugiram e me deixaram sozinha com significado vazio. Só tu ficaste!
Helena, a goteira já pinga, prenuncia a alegria-tristeza de uma mãe que vai perder um pouco a única filha. Dá um duplo abraço na tua mãe e diz a ela que não há nada que pague a felicidade de ter uma filha Helena. Ao teu noivo, o Felizardo, eu felicito pelo achado. E que tenha muito cuidado porque não existem duas Helenas raras.
Muitos beijos e abraços e votos de eterna felicidade extensivos ao teu amor e teus familiares. Guarda esta, nunca a rasgues. Não é poema. Sou eu mesma.
Helena, eu ando triste. Sei que não vais ficar sentida. Tu me compreendes. Eu te conheço. Eu estarei aí, estaremos...
A minha Alegria é do mesmo tamanho da dos outros que te amam, sempre fui tua amiga mãe.
Lembras-te da Linha Reta? Quando te conheci tu estavas nela sem poema.
Com a minha melodia de Cigarra-Formiga, eu embalei teus passos, uniformizei e acelerei a caminhada. Aumentei a pista a pinceladas rítmicas para que hoje dances de mãos dadas sem algemas isoladas. Muitas vezes, tu ias na frente, carregando a carga, seguida pelo canto da velha cigarra. E na fila, tu me escondias e dizias às Rainhas, ela também é Formiga. E no formigueiro, dividias comigo a seiva do verde tenro e misturávamos no ninho, a massa cinza.
Perpetuei a tua alegria de hoje e de sempre dentro de mim e usei uma muralha para defendê-la da minha presa-tristeza. Não posso misturá-las para não diluir o Rosa no quadro Negro. Seria um crime. Por isso apesar de imensa e positiva, essa emoção é impotente para me deixar menos triste. Esta emoção é livre!
Helena, tenho medo que no momento dos festejos, a muralha desmorone em lágrimas, que o dique me traia... E eu, escandalize os presentes confundindo a noiva com a viúva de marido vivo. Nada de expressionismo! Neste objeto abstrasto, não devo integrar-me para não maculá-lo.
Querida amiga, a tua felicidade não me é afronta; é sinceridade, é coragem, é aveso de alma. A ti não escondo nada. Jamais te esquecerei. Também não é adeus.
Desejo lembrar-te com as calças desbotadas, os cabelos lisos, a boca rasgada de gargalhada... azulando da aula... tomando chá a prestações para pagar no fim do mês o homem do bar com o olhar azul-bebê. Dentro do carro merendando comigo uma prova –milagre, quebrando o galho do francês, orgulhando a coruja-portuguesa na platéia, eternamente enferrujada à Flor do Lácio.
Desejo lembrar-te no meu quarto sem grupo num abraço, quando todas fugiram e me deixaram sozinha com significado vazio. Só tu ficaste!
Helena, a goteira já pinga, prenuncia a alegria-tristeza de uma mãe que vai perder um pouco a única filha. Dá um duplo abraço na tua mãe e diz a ela que não há nada que pague a felicidade de ter uma filha Helena. Ao teu noivo, o Felizardo, eu felicito pelo achado. E que tenha muito cuidado porque não existem duas Helenas raras.
Muitos beijos e abraços e votos de eterna felicidade extensivos ao teu amor e teus familiares. Guarda esta, nunca a rasgues. Não é poema. Sou eu mesma.
Obs. Desejo dar-te um presente, porém faço questão que
escolhas o necessário sem constrangimento. Os limites eu te darei. Vou te
telefonar. Quando vieres para cá, vou te visitar mais tarde. Poderias vir pegar
o presente pessoalmente, não tenho carro, quem sabe o Chico....
Da amiga de sempre Marlene Vieira Perez – MPerez (a Lene)
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