quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Apologia à Merda
Apologia à Merda
(Texto inspirado numa carta, para animar um filho a terminar seu curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro, localizada na Ilha do Governador, apelidado pelos estudantes de O Fundão da Merda)
O Fundão está menos
mergulhado na merda. Sim, porque segundo o que me ensinaram e eu lombriguei
pelo microscópio, detritos orgânicos são os que se salvam ou se afogam dentro
da merda. A merda propriamente dita, não passa de merda mesmo, ou seja, a merda
dos dejetos que caíram no intestino da merda que os recebe já em bolo de vômito
do estômago que o havia requisitado à boca o que esta abocanhou em algum lugar
e mandou os molares e os caninos triturar. Em alguns casos toda esta descrição
fisiológica retroativa é desnecessária
pois o cara já come a própria merda no duro. A fisiologia digestiva do pobre
deve ser enferrujada, depressiva. E a ironia está na organização perfeita,
idêntica a do rico. O desgraçado paupérrimo ainda enfrenta a antítese de
trabalhar como uma besta e sentir suas vísceras na preguiça, em greve por falta
de matéria. O grude é a matéria prima do pobre que ele já engole como uma merda
mole mesmo. Bem, depois desta filosofia de merda, chega-se à conclusão da
seguinte tese: onde há excesso de merda de gente e de cães até pelas calçadas é
sinal que há comida sobrando. Cagam tanto que as privadas e as praias
infelizmente já estão lotadas. O rico é de merda prima. O pobre de merda
primorosa, é antologia, a flor da obra. O pedreiro lá no fundão mesmo da
história é que caga a poesia concreta da arquitetura moderna. Portanto, meus
filhos, meus netos, meus eternos alunos, meu povo, não liguem para a merda que
os rodeia. É preciso cagar-se até de medo, ter vivido na merda, amassado muito
traço de merda, ter traçado muito troço, gráficos e mapas etc., ler e escrever
muito na merda, perfumar-se dela, para um dia se ter condições de criar até da
merda, sem preconceitos um poema, uma crônica como esta, uma planta, um
projeto, levantar um prédio sem cagar as mãos. Não há planta nem prédio perfeitos
e viáveis sem calcular o local da merda.
Um parasita
retardado que se caga pelos poros ou pelos olhos com medo de ser Ele
mesmo, sempre fará feio: obstruído, sem visão, tato e sensibilidade, jamais
dirá com arte, por exemplo: a trampa, expressão regional de um operário que foi
meu pai, que lia Bocage e Camões e ainda se dava ao luxo de entender o
simbolista medalhão e conterrâneo Cruz e Souza ou poetas líricos e épicos mesmo
de merda de uma obra concreta, difícil, plena de cálculos embaralhados, surrealistas,
divinos e artísticos e quando acertava abria um sorriso na sua ingenuidade sábia
e vitoriosa. Quem não entende de merda, gente, não sobreviverá à poia circular
da vida, cagalhão duro e i - n - mundo. A merda figurada ou real da vida não
atingirá àqueles que a conheceram primeiro. Imunizados não correrão o risco de
contaminar-se pelos vermes. Toda barreira de bosta será transposta sem bota, os
pés são garras, cascos a qualquer prova e viva a rima, os trocadilhos, os
neologismos regionais ou não e todos os palavrões na tentativa de perseguir o
surpreendente, porque o inédito não existe
do certinho e bem comportado, nasce do caos e do saber com intuição, arrumar a
casa, metendo os pés pelas mãos. Nesta escalada também não há lugar para nenhum
tipo de luvas, principalmente o de pelicas. A imunização é fato consumado. Os
merdas se cagam na armadilha, olhamos por cima como vacinas, à espera do
cagado, que virá um dia aos nossos pés implorar o antídoto. Mas antes é preciso
viver muito na merda, aguçar o olfato para senti-la a léguas, cagando à
vontade. Chega de merda por hoje. Qualquer dia irei visitar este Fundão de
merda viajando pelo esgoto.
Escrito em fevereiro de 1977-SP...
e revisado em 14/11/13.
Marlene Vieira Perez - MPerez
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Presa Viva
PRESA VIVA
Não aconselho
que me devores
a carne está rija e acre
me devolve apenas
à minha natureza desumana
abre a gaiola
e me solta no vácuo
ficarei boiando
curada no espaço
sem dores
abobalhada
novinha em folha
rodeada de amores imperfeitos
e inocentes
dos quais não tenho medo
e tu livre de mim
que dou tanto trabalho
irás caçar borboletas
pra ser feliz!
Marlene Vieira Perez - MPerez - 20/11/13
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Virada
Virada
eu ando tão apagadinha
mancando
curvada
a um peso descomunal
do passado?!
corro na praça
descompensada
acho que é medo
dos desencantos
inesperados encontros
o coração bate fraco
desconsolado doi, doi
me consolo na virada
da poesia piada
e me espanto de não dormir
à noite comemoro
rindo rindo rindo
de mais um dia
longe dos calafrios hediondos
tomo um calmante para acudir
meu pranto
eu ando tão apagadinha
mancando
curvada
a um peso descomunal
do passado?!
corro na praça
descompensada
acho que é medo
dos desencantos
inesperados encontros
o coração bate fraco
desconsolado doi, doi
me consolo na virada
da poesia piada
e me espanto de não dormir
à noite comemoro
rindo rindo rindo
de mais um dia
longe dos calafrios hediondos
tomo um calmante para acudir
meu pranto
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