Marlene Vieira Perez - MPerez
quinta-feira, 29 de maio de 2014
domingo, 18 de maio de 2014
LUCRÉCIA – MITO
"Nunca se esqueça"
LUCRÉCIA – MITO
Homenagem a uma Profª de Teoria Literária.
Lucrécia –
Sorriso
sem óculos
míope
de olhos
sensíveis
Lucrécia,
parada inédita
numa obra
Aberta
sem motivos
visíveis
Lucrécia –
cega
vagando
dentro da minha poética
Verso inverso
preso
Lanterna –
latente
latejando
método
Objetiva
perdida
Sem pilha
sem foco
de lentes
submarinas
Lucrécia –
Símbolo
da fantasia
Dançarina
virgem
Sereia
surrealista
Mito da
justiça
Melodia
noturna
Meia-lua
Sonho de
véspera
Esperança de
poeta
Mentira de
verdade
Poesia
assassina
Lucrécia –
Sagrada
Teoria fantástica
Toda Ah da
minha Arte
Toda pinta do
meu sete
Toda S S S S
S S S S S S
Década de 80 - Marlene Vieira Perez - MPerez
sábado, 10 de maio de 2014
DIA DAS MÃES
de amor-perfeito
saudade quase concreta
para aliviar as almas
de todas as mães
solitárias e poetas
que sofrem sempre
na discreta caserna
e choram em silêncio...
II - Observação
Todas as mães que amam
nasceram poetas!
III - Seus filhos?
Embalados poemas-objeto
dispersos pela vida em versos!
Feliz
dia das mães!!!
MPerez - em 09/05/14 - Rio das Ostras - RJ
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Diário de Classe
(Homenagem ao Dia do trabalho)
(Homenagem ao Dia do trabalho)
Ana cabisbaixa e manca se
dirigia para o ponto de ônibus carregada de livros, pastas, apostilas. Mais um
dia. Como sempre fazia o balanço da sua vida, lembrava-se da época em que os
filhos eram pequenos e que torcia para crescerem. Mais um dia...O ônibus chegou
lotado. Conseguiu entrar tropeçando. Nem sombra de lugar. Será que teria alguma
coisa na geladeira para comer quando chegasse em casa?! Laranja talvez, era a
salvação. Os passageiros, todos mártires e assustadores escravos de salários,
sem dormirem há séculos quem sabe...salvos de avalanches intermitentes.
Cantarolou mentalmente a Travessia de Milton Nascimento “Meu caminho é de pedra
como posso sonhar”. Desceu no ponto errado e dirigiu-se às pressas para casa
olhando pra trás e em
volta. Subiu o morrinho da sua rua. Puxa vida, havia sempre
um morro pra escalar desde que se conhecia por gente. Rua escura. Abriu o
portão e fechou rápido. Suspirou. Quando entrou no quarto livre da carga, atirou-se
na cama. Precisava tomar um banho. Não, amanhã cedo. Ligou a TV. Não tinha mais
nada. Era muito tarde. Que fome, meu Deus! Levantou-se cambaleando e voltou com
a bacia de inox cheia de laranja e uma faquinha. Odiava descascar laranja.
Olhou pro pôster de Elis Regina: é pau, é pedra...Amanhã precisava enviar
dinheiro para o Henrique. O especial Banespa já estava no osso. Pagar a
prestação da casa, o telefone. A sexta ainda estava longe. Sábado limpar a
casa, corrigir prova e domingo ir à feira, cozinhar pra semana e lavar roupa.
Comeu as laranjas com bagaço e tudo e tentou dormir. Bem que podia terminar
aquele poema. Qual? “Uma questão de poética” pro concurso de poesia falada.
Perdeu o sono. A caneta! A caneta? A eterna caneta, bastou querer some. – Achei!
Pegou do caderno ensebado e começou a rascunhar. Estava muito bom, mas longo.
Será que psicografava? Seu pai dizia sempre: essa menina tem guia! Não era
cega. A colega espírita Jandira sempre insinuava quando lhe mostrava algum
escrito: isto deve ser do Garcia Lorca, do Cruz e Souza e até do Fernando
Pessoa, conforme o texto. Será? Não, era ela mesma. Imagine se encarnava todo
aquele batalhão de gênios. Naturalmente deviam falar que aqueles poetas também
psicografavam. É duro ser de carne e osso!
Entrou
de madrugada e saiu de madrugada. Minha nossa! Será que valia a pena. Todo
aquele sacrifício?! Tinha chegado atrasada e levara uma bolinha vermelha na 1a
aula (depender de ônibus não era fácil), mas foi dar a aula com prazer porque
os alunos a esperavam ansiosos, adultos e conscientes, afinal era uma famosa
Escola Técnica, o Cei Prof. Camargo Aranha, lá no Brás. O pior era agüentar as
brigas do marido lhe cobrando horário, almoço, janta, dignidade de mulher
casada. Quase 15 anos em S.P. e ainda não conhecia nem o Municipal. Ainda bem
que estava no fim de ano! Herinque ia se formar,sentiu um calafrio. O dinheiro?
Não enviei o dinheiro!!? Iria arranjar um empréstimo pela Prefeitura lá no
Carandiru! Perigoso. Mataria as aulas da tarde. Mas seria a glória, tinha
conseguido, ia formar o filho do meio, o primeiro em medicina. Edgar já estava
formado em engenharia e Alcides, o mais moço, também fazia medicina. Não teria
tempo nem dinheiro para fazer um vestido novo, mas iria com o da missa, aquele nosso
velho conhecido, o caipira estampado da missa que já usara na formatura do
Edgar. Seria uma vergonha, mas iria de qualquer jeito. O importante seria sua
presença. Conquista dela e do filho. Esta história merece um acabamento, prometo
voltar em 2015 com o segundo capítulo desta novela de uma operária brasileira
das letras.
MPerez - texto criado na década de 70 e publicado hoje em 1° de maio de 2014 - Rio das Ostras - RJ
Comentário: O pior é que não mudou nada...
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