quinta-feira, 31 de julho de 2014

DEFESA DE MULHER EM TESE

DEFESA DE MULHER EM TESE
(A uma platéia imaginária)

          Devido aos compromissos da vida carregada de responsabilidades na luta pela sobrevivência enquanto há tempo e, ainda tumultuada pelos ruídos imprevisíveis do conviver que alteram as nossas emoções com sérias conseqüências no nosso equilíbrio psíquico, físico e social, a gente vai adiando uma conversa, um encontro. Conforme o caso o telefone é inviável, meio muito útil para administrar a vida, pedir socorro quando nos restam ainda condições de usá-lo, etc, também para um papo rápido e amistoso, um apoio espiritual de um amigo íntimo ou matar as saudades de um parente longe também é válido.
          Diante de situações delicadas, o ideal seria o diálogo, tête-à-tête, porque no fone a expressão, os gestos, o olhar muito significativo se perdem. Olha-se o relógio, nos apressamos naquela ansiedade, nos preocupamos com o preço dos impulsos e ao invés de resolvermos os conflitos para um entendimento, agravamos o problema. A meada cheia de nós é inevitável, difícil de recuperar inteira para remendar ou cerzir nossa imagem. A face nova, desconhecida para os mais íntimos é a chave de um entendimento pelo menos a curto prazo. Só temos esperança de um longo prazo com a confiança gradativa que se solidifica em provas de lealdade, apoio num momento difícil. Não é recomendado cobranças nem críticas, ninguém está disposto mesmo a pagar impulsos emocionais pelo fone. Tentamos de cara ser objetivos, vamos logo no centro da ferida para resolver rápido nossas decisões, atingindo a meta do que é prioritário. Nada é considerado, só os fatos do momento colhidos na superfície, através de intermediários que deturpam a mensagem com o seu individualismo, sua interpretação, seus interesses. Por isso, o telefone é um desastre, mas às vezes ainda o único meio quando a solução imediata se impõe. Só que para provisoriamente quebrar um galho como o pára-raio do mundo pelas próprias contingências de uma situação adversa, não se pode exigir decisões definitivas pelo fone. Corremos o risco de abalar a estrutura de uma vida que se construiu passo a passo. Todos têm a sua história, suas mágoas, seus valores, suas perdas, seus ganhos, suas ingratidões, sua razão e querem defendê-la com os argumentos a partir do seu foco narrativo, para ganhar a questão, condenar ou absolver, enfim, ter causa ganha ou tese aceita para atingir a finalidade de seus propósitos imediatos. Seguem só seus interesses pautados por visões filosóficas subjetivas, fatos precários, influências externas de lavagens cerebrais antigas e reforçadas por terceiros, que alimentam o ódio gratuito e a vingança patológica até por uma criança inocente, que aqui não cabe discutir, quem sabe no desfecho. Ouvem só um lado, o da vítima que é o objeto imediato em causa, não ao direito nem chance ao réu, principalmente ao telefone. Ninguém quer pagar impulsos de opositores e se dão chance é à traição, na extensão mais barata, tudo muito certo como doutores humanitários, cumprindo aquela ética à risca. Não se comprometem de cara-a-cara. Eu não sei se isto me lembra o beijo de Judas, que trai com a boca de outro, assim na retaguarda como grande cúmplice do crime a ser praticado pelo mandante ou se me lembra Pilatos a lavar as mãos, omitindo-se covardemente, em cima do muro, mas adorando atiçar a fogueira para salvar a pele por recalques, inveja e ambição (isto me remete mais ao rábula). A turba crucificaria Cristo independente de Pilatos, mas usar neutralidade foi a gota decisiva a entornar a taça já cheia de fel e veneno de cobra; típicos do medo na competição que pode levar ao sadismo de um crime bárbaro. Eu acho que me lembram as duas personagens da história cristã dos dois samaritanos, só que não posso distribuir os papéis por não ter sido testemunha ocular da trama. Quem deu o primeiro passo? Quem teve a brilhante ideia? Realmente não sabemos quem é quem. 

Só sabemos que um deles teve interesse, envolvimento mais direto para resolver o problema porque a bomba estava em suas mãos e não teve o tato, a calma, o senso para enfrentar a situação ouvindo as duas partes com espírito de solidariedade imparcial. Deixou-se levar por questões pessoais antigas ou por ser o juiz do jogo que torce por um dos times só naquela partida por estar jogando contra um time que derrotou o seu em outra ou ainda aquele jogador brasileiro que se vê na Itália ou em qualquer país estrangeiro, jogando por dólar contra a seleção brasileira.  Não se pode nem mesmo desprezar o imigrante já enraizado no país estrangeiro, rodeado de amigos, tomando uma cervejinha, assistindo ao jogo entre o time daquele país contra o da sua pátria, meio expatriado, com mágoas porque santo de casa não faz milagre, se lembrando só dos erros, das ingratidões, do suor derramado em vão, sem reconhecimento, entre a cruz e a espada, sofrendo pressões de outra pátria inimiga, influenciado pelas referidas lavagens intermináveis, sádicas, maquiavélicas e neuróticas, lembrando só dos maus momentos e não do que a sua verdadeira pátria fez por ele. A verdade se torna um deslize de emergência necessário de sua pátria distante e desgovernada que acolhe saudosa em estado de sítio, como um forasteiro para defendê-la e amá-la na ausência de um governante legítimo, leal, empreendedor e amante fiel de longas batalhas desprovido da guarda de confiança de seus filhos. Este crime não só apaga todos os feitos gloriosos de sua pátria como a condena a pagar, a assumir todos os outros da história a ela atribuídos. Por inveja? Por calúnia? Por ciúme de um General cruel à la Franco com medo de perder o poder, as possessões, a cadeira de ditador, carrasco de primeira? Este missionário usa da lógica como um promotor que acusa um réu primário em liberdade condicional por todos os crimes cometidos na cidade. Fica mais fácil, arquiva-se o processo e se dá por encerrado, livrando-se da bomba. Realmente eu não queria estar na pele deste missionário. Entre a cruz e a espada, a posição de Pilatos quase se impõe. Não é fácil um Pilatos em cima do muro tomar decisões para julgar e condenar, um mago, um líder ou um cisne. A tentativa é sempre válida, nunca é demais nos desvirarmos e aceitar também o avesso do outro quando se despe de suas aparências e valores. Devemos reconhecer nesta ação um ato de humildade que deve ser ouvido e levado a sério. Esquecer um pouco a etiqueta e os preconceitos sociais é importante quando comprovamos nos resultados que não se deve adiar um papo, uma conversa ou um encontro para sempre. Nunca é demais valorizar o sentir, o radicalismo da certeza absoluta não existe, excluindo-se aqui, é evidente, os dogmas religiosos.

20/09/2007 - Fpolis - SC 
Marlene Vieira Perez - MPerez

quinta-feira, 24 de julho de 2014

COMO VAIS?


Como vais, meu silêncio indefeso? 
Sorriso único, sermão ambulante do meu tempo de escola?
De vestido nos tornozelos?
Minha crente, homilia de freira, loirinha ou morena sereia?
Tão jovem, séria prematura, minha direita casmurra?
De esguelha, de marcação ferrenha?
Não sei se sabes, mas estou bem por aqui pertinho
cantando cínica que não presto
mas eu te amo!?
e o que é mais importante?

Marlene Vieira Perez - 13/07/2011
07/01/2006

quinta-feira, 10 de julho de 2014

RELÍQUIAS DE BAÚ





Num baú, escondido no sótão
chorava a boneca
mutilada de guerra
jogada fora
sem sonho de reciclagem
seu coração entupido enfartou-se
por ser incomodado
pelas aranhas e
sangue-sugas
e a boneca
safada safenada por milagre
se arrancou e safou-se
disposta a nunca mais
ser boneca de trapo
espantalho de ninguém
se remendou a laser
e voltou ao sótão
colocou os trapos e as estopas
pra fora
junto com os laços de família
queimou tudo
e desvairada
porque não sabia
aonde colocar as cinzas
recolheu nesta folha
apenas os resíduos
de um veneno muito
antigo
no ar suspenso
apenas o medo

Marlene Vieira Perez - MPerez