domingo, 28 de outubro de 2012

PRESSÁGIOS



...QUE TODOS AMANHEÇAM VIVOS PARA UM BOM

DIA, APESAR DO CLIMA, PENSANDO NESTA IMAGEM 

LÍRICA...


MARLENE PEREZ – Lene

BOA NOITE PRA MIM, BOM DIA PRA VOCÊ



BOA NOITE PRA MIM, BOM DIA PRA VOCÊ
O SOL É SEU
A LUA É QUASE MINHA

E O QUE SOBRA É POESIA...



MARLENE PEREZ – LENE

QUEM SOMOS



O que somos

nós diante do Universo?

Na superfície de um dos planetas minúsculos

lá estamos numa casinha de marimbondos

morrendo de frio, pedindo pro Sol nos aquecer...

E o SOL chega humildemente

e ilumina a mansão dos poderosos

do tamanho de um palito de fósforo

e num repente se vai

o gelo desce

e os pensantes

fosforados, nada podem fazer

se encolhem esperando a lua fria...


MARLENE  PEREZ - LENE 
05/10/2012

CREPÚSCULO



ENTRE AS CASAS MEIO PERDIDAS E A NATUREZA EXUBERANTE DE ESPERANÇAS E BELEZA, O CREPÚSCULO SE ANUNCIA...

MARLENE PEREZ – LENE


ANOITECENDO



ANOITECENDO

O CREPÚSCULO ABRASADOR

SE CONFUNDE COM O NASCER

ENTRE AS FRESTAS DAS ÁRVORES

ESCURAS O ESPETÁCULO

SE SEGURA

COMO CORTINAS DE TEATRO

ENTRE O CAMPESTRE E O URBANO

A BELEZA DO CREPÚSCULO

NOS REVELA UM FLASH DO MUNDO ...



MARLENE PEREZ - LENE

27/09/12


NANOPOEMAS





...janela...trancinha...avental...lacinho...
jardim...alecrim...
vizinhos e passarinhos 

já estão bem velhinhos... 
mas sempre nos tocam
e nos fazem olhar pra dentro 

do interior de nossa casa...
vazia de alma...





Marlene Vieira Perez - Lene


Amo coisinhas



assim belas (lindinhas) 

formando um 

quadrinho de mimos 

cromos antigos 

com aquele vasinho 

de planta no diminutivo 

florzinhas lilases 

e eu ali quase 

me rendendo aos encantos 

me derreto e canto... 



MARLENE PEREZ – Lene


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

POESIA TRISTE





POESIA TRISTE





Estou ao vivo
na rua
na esquina
da cidade
da vila
caída na boca do lixo









Sou poesia triste
cria nua
perdida no ritmo da vida
sem compasso
recolhida aos pedaços
e vendida na praça como escrava 
de consumo rápido.
Sou produto: resumo de aluno resíduo público












Sou atriz de novela em preto e branco
Sou cinema mudo de legenda borrada
palco e platéia da boite
do bordel
da favela











Sou feita às pressas


pareço moderna

mas sou muito velha














Sou vedete
chacrete desbundada
currada pelo vídeo do operário
funcionário
professor
estudante
de salário faminto
tarado... no mínimo!















Estou na moda


Sou a glória da Maria, da Geni
sou donzela com pinta de travesti
consagrada na gíria, na mímica, na palavrinha
da vanguarda roída
comida até as vísceras
batida
explorada
e calada...
porque perdeu a língua















Sou mutilada de guerra
que berra gaga e se confessa:
sô - sou - pô - e - sia tris - te - PÔ!
PÔ - SI A - POXA!
Mas pô - e - sia, pô - e - sia - PÔ!
E mu - mui - to vá - VÁ - VÁ - VÁLIDA!









Marlene Perez - Lene

EVOLUÇÃO


(Gênero: Teatro)

Presente

Mais uma vez jogada na rua como um caroço de abacate
a polpa lá em casa passada no liquidificador Walita
completamente despida na superfície
era de abrir o chão
meros reflexos das mãos e das pernas

Balanço

Latejos contrações rebentos lances da semente
matéria esparsa película em retalhos...
Arranjo colagem capa ilustrada trama no arame farpado
avental estampado de slides.

Revolta histórica

A vítima da ação reconstitui o drama doméstico da última volta
conduzindo um carro alegórico. Estaciona em frente a um palanque
improvisado. Desliga-se da Brasília, esconde a chave e os documentos.
Promotor, críticos, jurados, multidão curiosa, blocos...Seria o momo
do juízo final?!
Ninguém de advogado. Enxame de pilatos.

Primeira evolução

De dentro dos copos sujos o reboque do esqueleto
sem alarme ibope guinchos
besuntado salgado de baba o verde defunto
em bagaços de fibra ataduras fachada do fruto
recolhido do lixo remendam fiapos de vida

Segunda evolução

A navalha de penetra afunda veterana sem ensaio brilha elimina a
estréia da esperança. Migalhas de creme espirram da máscara
em duas metades. O mingau na mesa sem um pingo de açúcar. A baga no
piso. Muitos risinhos de vaia.

Reviravolta

Cadáver humilhado não se enterra por desmaios. Descobre uma brecha
uma cova aberta num etecetera. Respira do fundo recria do nada
uma fábula escapa derruba o espaço agarra o tempo pelo pescoço
entra de hoje nem uma palavra. Estátuas cegas embalsamadas. Uma
samambaia faz sala. Anfitriã de consumo? Sorriso amarelo-limão.
Toda enxuta. Miss Vareta de plástica traída na queda en-ver-ga-da,
coitada! Horrível. Num transporte devasso a SURPRESA. A louça
lavada e seca dentro da máquina nova em silêncio automático.
A sua cozinha com ares arrogantes de vitrina do Mappin. Uma agenda!!?
No programa rodízio de pizza, espuma de Brahma. Milk-shake de
lambuja. Azia. Sal de fruta. Amanhã? Café no bar sabor ressaca,
almoço de cachorro burguês com todas as pintas latindo pedigree
no Shopping Center.

Fuga

Despacho definitivo e sem comentários. Tarde. Muito tarde? Atinge
a marginal. Treme fareja cobertura pela esquina. Sem referências
nem vantagens. Que dona louca? Que loucura dona! Miragens
de vira-lata sem fundo de garantia. Nem sinal da carrocinha. Cobaia
velha não suporta o avanço da técnica...saturada!? Nem mais filha
era...Só avó da puta! Vira vira a lata te vira te cobre sozinha dorme
morre MULHER! Mu-lher? Impasse. Controle remoto.

Mudança de cenário

A coragem na fila do enterro dos ossos.
Um lanterninha por milagre. Uma carneira vazia!!?
Reserva de fidalgo infeliz acomodado às direitas por cima da cara
metade feliz da vida finalmente? Uma fria!

Insight

A dignidade no redemoinho da arte
rodopia gira gira a imagem
traga por encanto a caveira dramática.
Renega a gaveta. Entra de alma na pele de um bom fantasma e baila
no ar, linda de morrer, a flor do abacate.

Marlene Vieira Perez - MPerez




sábado, 13 de outubro de 2012

UMA QUESTÃO DE POÉTICA


UMA QUESTÃO DE POÉTICA 


Objetivo: (Selecionar professores de Português para o ensino público profissionalizante de 2º grau, conforme a lei 5.692/71)

I – Texto:

Cada nota anônima carrega uma molécula
Cada molécula múltipla nacional é uma célula degenerada
Síndrome infalível do polvo escondido num poema maligno (?!!)
O processo evolutivo dissemina-se plurívoco em
alto nível. Num deslize, o tumor se publica,
deriva-se imortal, sai da casca com garra, desfila
à superfície no ápice da catarata magistral como um
cisne selvagem, desafia as correntes, assobia um minuano,
vira gente, atrai o povo, abafa o pio da coruja triste,
vence o curió de “Currish” que se gonga no íntimo e sai
do páreo. Um homem-poema sonha, na pauta branca,
em todos os ritmos Sobre-vivas! Na linha vários estilos
sem rima, explodindo os ecos do direito à vida agreste
ou erudita.
          Um poema-homem está desarmado, foi morto e cremado.
Fumega num outro e prossegue o caminho, É perseguido.
Confunde-se com sua natureza. Vira uma árvore.
A dúvida martela científica, metódica, na linha do
bloco-psico-trópico-sócio-crítico, com estrutura de seringa.
          A coruja na pele da formiga examina a folhagem
de “óculos Varilux” em todos os raios, devora a clorofila
injeta a vacina num veio original. A seiva vernácula
corre, escorre vermelha, esfria no chão. Uma imagem
pálida comove e sugere apenas uma cruz:
a (  ) numa árvore seca para  ser salva
b (  ) num líder corajoso para continuar vivo
c (  ) num poema que ecoa a Cruz e Souza ou Garcia Lorca para ser publicado
d (  ) ou nela própria, dona do quadro vário onde se encerra o espetáculo
II – Gabarito: D de dado

III – Comentário

Neste concurso lúdico e público
o segredo do cargo é investir tudo no dado.
Só uma cruz digna do abc
carregá-la negra até esgotar o prazo.
Um túmulo verde se abre.
Magistério à vista no ministério da Santíssima Trindade
Alguém ressuscita? Quem fica?
Extra! Milagre! Extra!
Um Cristo- Poeta entra bem na vaga quadrada e leva:
a) na cabeça o pai da Arte Literária
b) na conversa o filho Bendito da Língua Materna
c) na ficha o Espírito-Santo-de-Orelhão-Público da Técnica de Redação
d) e no salário a multa do pecado...em reajuste mensal...

15/10/80

Marlene Vieira Perez - MPerez

AUTOBIOGRAFIA III


III

Sou filha de coração de São Paulo: matéria prima, ritmo poético da minha vida, embalo contínuo.
Quando entrei na USP meu auto-conceito subiu. Em plena descoberta de quem eu podia ser, eu era mesmo sem saber por que aquela sulina de ilha !? Borralheira ou cinderela cheirando à maresia ? Já tinha um referencial seria inteligente e ou criativa ? Sempre cheia de dúvidas prosseguia usando tu e não você, cantado ao ritmo das marés baixas estranhava a música do povo que espantosamente negava de pé junto, não cantar. Claro que todos cantavam  de formas diferentes e acabavam se entendo na mesma sinfonia de ritmos vários; quem chegava de fora desafinava a orquestra, mas a partitura se abria e acolhia mais um acorde, naquele milagre da polifonia harmônica.
Caetano, meu irmão, “quando cheguei por aqui eu de nada entendi” mas senti muito. Vontade de mergulhar de cabeça no caos, boquiaberta, encantada pela sabedoria dos mestres autores dos livros que eu lia como se fossem deuses e agora meus professores ao vivo. Surpresa pela criatividade dos sábios ambulantes de rua, coloridos camelôs, cantores improvisados, aos domingos me perdia nas feiras livres e me entupia de pasteis. O brilho de São Paulo me ofuscava nos faróis dos carros e nos letreiros iluminados. Filas intermináveis, ônibus superlotados.
Eu me sentia feliz e liberta na multidão. Seguia procissões, fazia greve por solidariedade sem saber nem por que causa estava defendendo. Eu não era ninguém, mas pertencia como célula àquele povo que fazia história no anonimato. Concursos, bienais, museus, como gente lá eu estava com o nariz metido. Era um sucesso. De fila em fila chegava na faculdade e nos empregos. Fui melhorando de vida, ninguém reclamava mais por eu ser catarinense, se cantava se não cantava, até arriscavam um baiana um carioca. As caras eram fechadas e sofridas. Dei férias ao meu sorriso para não afrontar ninguém com a minha alegria perplexa de sulina deslumbrada.
São Paulo era um país, mas não exigia passaporte.
A minha vida já era uma obra aberta, lírica perdida no meio da epopéia. Lia muito, andava nos sebos batendo perna e descobrindo relíquias.
Passei a usar Varilux, os olhos da cara ! Participava dos concursos de poesia falada da falecida Editora Escrita que deve ter ressuscitado com outro nome em outro planeta, ganhei alguns prêmios, tinha até platéia. O meu currículo familiar crescia a olhos vistos.
Sim senhor, São Paulo, um teatro e um circo variado, um feitiço e uma tragédia grega. Vivia-se na fantasia porque a realidade era alegórica, fictícia. Só para olhos de artista ? Máscaras para todos os lados e caras desprotegidas, às vezes sangrando ou chorando, muita miséria muita fome.
Um dia resolvi voltar para minha ilha praquela paisagem de sonho praquele ar purinho de vento sul mergulhada em céu, mar, morros e montes. Saudades das minhas piscinas vivas, salgadas, cheias de ondas e espumas; dos meus cômoros de areia branquinhos.  Mas logo a bandeirante vacinada retornou à luta e voltou ao burburinho do movimento da sua sampa capital do coração e nunca mais a esqueceu...


São Paulo, 19 de setembro de 1983

Marlene Perez - Lene

AUTOBIOGRAFIA II


II


A vida inteira tenta trocar de roupa
este espírito sensível e irrequieto.
O vestido se desbota velho puído nos cotovelos.
Bolero um rock fantástico interno
às voltas na década de 60 requebro-me
entro de ré em 50 na fuga estéril
do Gregório de Barros. Masturbação violenta.
Lençol branco. Cadeira de balanço.
Uma canastra em resumo de mala
estourando planos seculares e burgueses
1956 : A minha figueira de muletas
da praça XV com catedral aonde entro
cega de grinalda tropeçando na cauda
por um fio de meada no dedo
1970 : Chegava em São Paulo, procedente de Florianópolis, hóspede
da Avenida General Olímpio da Silveira
quando cassam Santa Cecília com a igreja e o cinema
para eleger o Minhocão machista
No chão maços de poemas censurados e cigarros
Nem fósforo nem cinzeiro
Quarto compartilhado. Cunhadas de guarda.
Marido no quarto da empregada.
Três filhos na sala. Tudo apagado. Insuportável.
Aliança casada, anel de grau solteiro
com cobra envenenando a taça num abraço livre
tilintam os signos no silêncio, comprometendo-me.
Relógio antigo tic– tac de consciência
voa comigo ao paraíso da insônia.
Currículo na expectativa de nova algema. Dúvida
Na seta da vida brilha a U.S.P. acadêmica. Coruja.
1980 : Façanha inédita de poeta : professora pública efetiva em
todos os níveis imagináveis.

Títulos ? Vide prontuários megalomaníacos investindo contra as pastas

de papelão.
- Só ocupam o armário e a sua cabeça, professora : não valem mais nada.
Comenta a diretora terrivelmente realizada.
Só o tempo conta ? Pra entrar aonde ?
Hoje os meus poemas concisos saem do mofo
em quilômetros, blocos de irmãos pródigos.
Escapam desgarrados pela abertura sem espaço.
Muitos se entregam às traças sem pé nem cabeça
caem do elevado
num túnel de três algemas
dorme um mutilado. Primo rejeitado ? Quem sabe?

São Paulo, 25 de novembro de 1980.

Marlene Perez - Lene

AUTOBIOGRAFIA I


I

Nasci a 9 de Outubro de 1935, às 14:00 horas, na ilha de Florianópolis – SC. Tenho o Sol em Libra, com ascendente em Aquário, lua em Peixes e até que faz sentido.
Segundo detalhes macabros de minha mãe, meu parto foi muito difícil, meio a brasa e ferro, daí ter eu sido registrada oficialmente só a 20 de Outubro, sem o Souto materno. Uma pena! Acho um luxo Souto Vieira, mesmo sem ser o castiço do Vieira Souto, sei lá. Logo cedo me senti rejeitada? Não sei e nem quero saber.  
Meu nome Marlene,foi em louvor à parteira Maria Madalena, também nunca entendi bem esta homenagem assim mutilada em aglutinação canhestra.
Cantar,representar, ler e escrever sempre foram minha fuga para o jardim preferido. 
Tinha como irmã uma deusa grega surpreendente até no nome Zoê.  
Quase todos os dias apanhava uma surra da minha mãe, com vara de macieira ou marmelo que eu era obrigada a escolher no pomar, a mais grossa de preferência. O castigo maior latejava na dor da humilhação. Como era proibido chorar; sempre vinha um segundo tempo para calar os lamentos. Naquele tempo não havia a Associação de amparo ao menor.
Nunca sabia por que apanhava, afinal era cozinheira, limpava os lixos do teatro cotidiano, bordava e fazia labirinto em todos os ângulos, curvada nos bastidores. Creio ser o motivo de nunca ter a vida me reprovado nos seus bancos de escola.
Meu primeiro emprego foi após o segundo grau, auxiliar de secretária no extinto Instituto Brasileiro do Café. Pode? Na seqüência veio Farmácia, Direito e casamento, uma graça!  Logicamente a santíssima trindade tinha que ser mutilada. O direito foi condenado e saiu do páreo. Medicina muito distante competia nas vizinhanças de Curitiba. A atmosfera na minha casa aos vinte anos tornou-se sufocante e reacionária. Fuga: casei com um senhor pobre sem engenho de açúcar. Além de idoso e feio como comentavam no seio da família, era vinte e cinco anos mais velho do que eu. Os filhos que me desculpem, mas se são belos puxaram à mãe, ainda bem. Ao todo três: Taipas, Coiper e Brero. Calma gente são só apelidos de crianças, na verdade têm nomes até grandiloqüentes e aristocráticos: André Luiz, Carlos Alberto e Augusto Cezar.  Devido à pressão óbvia, desisti de advocacia, terminei farmácia e fui ser professora, me enveredando para o campo das letras e das ciências naturais.
Mais tarde vim para São Paulo. Marido aposentado, trabalhando em imobiliária.
Lá pelas tantas me vi formada pela USP em Línguas, com licenciatura, bacharelado e tudo. Nem acredito. Eureka ! Eu não sou burra, até hoje é o meu extra-brilho. Concursos públicos para o Estado, Prefeitura, perdi a conta. Sucesso total. Meu pai sempre dizia: “Meninas, vou educa-las porque são fracas, devem se defender com a cabeça e com a palavra meninas! É o que nos salva. Sejam sempre muito honestas mas  muito críticas. Eu posso dar murro no pesado, vocês não. Eu juro!“. 
Dizem que admiração traz inveja, inveja traz ódio, diabo a quatro e o pior é que tudo faz sentido. Até pode ser mas sempre fui muito feliz !?. Ah! lembrei, também fiz Pedagogia com habilitação em Supervisão, Administração e todos esses cursos de espera marido, mas infelizmente, pasmem! já era casada e consciente da minha situação inexorável de prisioneira. 
Antes de me casar... Imaginem? Isso ai, adivinharam. Uma ameaça de cantora de rádio e atriz de novela em cena naquela ilha perdida toda mágica. É isso mesmo, a nossa Florianópolis, da “Princesinha da Ilha” etc e tal. Adivinhem? Na rádio Guarujá ahahah, com quatorze anos fui mãe de um ceguinho, Dona Maria. Não lembro mais do nome da novela. Só lembro de que o contra-regras era o Mozart Régis, isso mesmo, o Pituca, produtor do Jô Soares, aquele do “Viva o Gordo” ! Meu pai entrou em cena e fechou o tempo.
Com o salário do magistério público eduquei a macharia, entrava pela madrugada a dentro. O Nelson Gonçalves da boemia era fichinha. Todos os meus filhos têm curso superior, com PhD ou sem PhD são todos doutores, e como são. Sim, Senhores! Soltei os “currículos vivos” no mundo, voltei a Florianópolis, comprei “O sítio do Silêncio”; que hoje se chama “Morada da Velha Gralha Azul (em extinção)”. Belos jardins, casa grande à marimbondo e virei estancieira num insight sem capital de giro, nem lucro, nem nada, mas eu era um arado naquela terra, como girava. Cresci muito como personagem de cinema mudo. A arte da ambiência e do ambiente se impunha viva. A poesia concreta me rodeava por todos os lados. Daí a pausa prolongada das minhas crias.
Já viúva, após o cumprimento de trinta e quatro anos de calvário por equívoco dos jurados, que me julgam até hoje na tentativa de consertar o terrível engano e fazer justiça, afinal são todos dignos e de boa-fé. Durante aquele tempo trabalhei às cegas como vaca de engenho em círculos com antolhos e tudo para alimentar os filhotes com farinha e açúcar.
Como farmacêutica de faculdade pública hoje integrada na UFSC, formada em 1958, nunca me realizei. Considero-me até hoje uma curiosa artesanal na linha fitoterápica: chás, poções, xaropes, ungüentos, pomadas e derivados afins.
Andei lá pelo IBEHE me informando em Homeopatia durante dois anos e consegui alinhavar uma tese na filosofia homeopática enfocando-a no Desenvolvimento Moral da Humanidade, talvez publique um livro sobre o assunto, por que é muito instigante. O maior interesse era equilibrar-me para entender a polêmica entre os meus filhos médicos. Na verdade não havia polêmica nenhuma. Todos concordaram finalmente que a homeopatia era apenas mais uma tentativa de cura para os males da humanidade, na busca de vencer a morte.
Viciada em escola me considero até hoje, já com 70 anos e aposentada, aluna e mestra.
Sou religiosa da linha ecumênica. Embaso tudo na consciência cósmica do Universo.  Que belo! Enveredo pelo assunto engatinhando em física quântica. Fascinante.




São Paulo, 27 de abril de 1997.

Marlene Perez - Lene