quarta-feira, 30 de outubro de 2013

IMPROVISO




Improviso

...ta tu-tum ta ti-bum ta...
...ta tu-tum ta ti-bum ta...

... e a Diretora
como uma garota
suspende a senhora
no ar             

          por algumas horas (?!??)
sem nenhuma pena
milagrosamente transcende
apesar dos   ( ) Quilos 
                      ( ) Pontos
                      ( ) Anos   
perdidos ou ganhos?
e grita: olé!
o coro ressoa
a gurizada das marginais
abre a roda de fogo inflamada
o bumbo e o atabaque...

...ta tu-tum ta bu-bum ta...

e num passe de mágica
se requebra a garota, a cigana que voa
e o olé olé olé... explode no coro
e ela dança toda prosa
linda de viver o AXÉ
para o que der e vier.


...ta tu-tum ta bu-bum ta...
...ta tu-tum ta bu-bum ta...
Marlene Vieira Perez - MPerez
22/12/2000

A SEMANA





A SEMANA

...quinta feira
esperança perdida
que dose...
SEGUNDA TERÇA QUARTA...
E NÃO ADIANTA NADA
SEXTA SÁBADO DOMINGO
INTOXICAÇÃO VIOLENTA
ESPERA VAZIA PRATO VAZIO COPO VAZIO
MENTE DORMENTE SÓ UM PENSAMENTO
FUGA FUGA FUGA
OS COMPROMISSOS AGONIZAM NA QUARTA
PROVAS PROVAS PROVAS
DINHEIRO DINHEIRO DINHEIRO SÓ EM DESEJO
FOME FOME FOME SEM PROVISÃO
SONHO SONHO SONHO SEM SOLUÇÃO
MEDO MEDO MEDO POR PESADELO
INSÔNIA INSÔNIA INSÔNIA 
EM CHOQUE DE MORRER
MEIA VOLTA VOLVER?!
...tudo roda
vou desmaiar na segunda
pra não ver...


Marlene Vieira Perez - MPerez

terça-feira, 29 de outubro de 2013

CARTAZ




O Sol invade dentro da noite cerrada
no silêncio o calor imenso sufocante
na tv do quarto imagens embaralhadas
num cenário desarmado
em mau contato
formigas e moscas tontas
em favas abelhudas
se cobrem de livres melindres
dos vasos secos
pálidos
e se debulham
em fragmentos ásperos 
e se coçam
acasalados 
streptococus 
sobem 
pelas pernas 
ferozes blocos
em bacanais
se abrindo em erisipelas alérgicas
sedentos pra subir
em sangrias desatadas
(um rastro vermelho inflama
a área) se fustigam
de olhos semiabertos 
o sono cansado e assanhado 
com as crias bacterianas
virulento pensa e arrisca:
- Cantil mágico
anilado e neurótico
por que não esgotas
no colapso do grande ponto
o derrame na pausa branca?
- É PROIBIDO AZULAR EM PAZ -

Marlene Vieira Perez - MPerez
em 19/10/13

domingo, 27 de outubro de 2013

FELIPE


Esquivo desconhecido
um símbolo
de capa-espada
se anuncia 
um príncipe chega
um homem entra de cisne
um gatinho disfarça em miados
seu charme de macho

par - a - béns - pra - vo - cê!

Felipe sorrindo
na foto inocente
parado no tempo
distante perdido
um estranho menino?

par - a - béns - pra - vo - cê!

O cromo foge e chega
eu não vejo
levanta a tocha
comemora a vitória
no encanto um raio de luz
se expande
e se revela no sangue
antecedentes em silêncio
latejam 
risos
no olhar quente

par - a - béns - pra - vo - cê!

Abre-se o bate-palmas
que eu quero passar
e no abre alas
a geração inteira da vovozinha desfila
uma bruxinha espavorida se atira 
e anônima acompanha a banda
suspirando de alma lavada

par - a - béns - pra - vo - cê!

Uma caveirinha sorri com todos os dentes
finalmente esbelta 
e eleita 
a mais bela soprano
dança e canta ao clarão da lua
aos acordes de um violino cigano
e do sibilar do vento
se não me engano
a Ave Maria de Schubert

par - a - béns - pra - vo - cê!

uma aragem entra invisível numa festa
digna e livre se projeta
e desaparece entre
as estrelas da Terra

par - a - béns - pra - vo - cê!

volta um silêncio de morrer
para você viver
um porta-retratos se aposenta
uma figura viva e virtual 
entra 
na parede traços 
jeans desbotados
de um menino
e num lixeiro escondido
as cinzas de um cromo muito antigo
denunciam fogo de palha
e a fumaça passa
e no rastro um homem formado

par - a - béns - pra - vo - cê!

Marlene Vieira Perez - MPerez
em 20/10/2003 - Fpolis - SC - Brasil

Homenagem ao meu neto Felipe Tibúrcio Alves Vieira Perez 
aos 13 anos de idade no dia do seu aniversário.
Só publicado hoje dia 25/10/13 para comemorar seus 23 anos de idade.
Rio das Ostras - RJ

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Mulheres de Atenas: sexo discreto ou reprimido?



          Quando Roberto Pompeu de Toledo tinha semanalmente a última
página na Veja (e a revista era de excelente qualidade naquela
época), nem sequer sabia que era por ela que eu começava a minha
leitura.
Naquele tempo eu não tinha computador e provavelmente ele
escrevia a maquina.
Depois de ler a coluna “Ponto de Vista”, eu começava a percorrer
a revista de modo menos oriental: lia de frente para trás,
como todo mundo!
Embora já vivesse em Paris, era pela publicação que me inteirava
do que ia acontecendo por aqui; até mesmo da reforma dos
Champs Elysées eu soube via Brasil!
Um dia fiquei boquiaberta com a sua crônica falando sobre
umas senhoras paulistas residentes em Santana; pensei, remexi, refleti,
pensei de novo, repensei e ensaiei umas linhas que jamais lhe
enviei, inclusive porque demoraria um mês para que minha carta
chegasse ao Brasil.
Internet? Neca de biribiteca...
Guardei aquelas linhas para um senhor tão especial e, remexendo
no fundo do meu baú, encontrei-as intactas; como uma obsessiva,
releio tudo que encontro, pois se foi guardado é porque
tem serventia. E não é que tem mesmo?

Quase trinta anos se passaram e eu me pergunto se as senhoras
de Santana que se manifestaram em São Paulo pela censura na
TV, especificamente sobre as cenas de sexo nas novelas, são avós
prafrentex ou ainda continuam com as ideias paradas?
É verdade que, num país democrático, pedir adesões para uma
campanha de moralização dos costumes denota que a liberdade de
expressão existe (para esse caso); mas o trágico é saber que um
grupo pode dela se favorecer para justamente acabar com essa
mesma liberdade.
Analisando friamente a situação das mulheres que pertencem
ao que sobrou da classe média urbana brasileira, pode-se prever
que elas mesmas serão capazes de enterrar definitivamente os esforços
que as mulheres conscientizadas do mundo ocidental tentam
fazer em prol da sua emancipação.
Saídas de Santana, Botafogo ou Amaralina, pouco importa,
quando na realidade são exatamente aquelas mulheres que contribuem
a cada dia para o alargamento de uma sociedade machista e
reacionária.
Num país onde eles, tirando a mãe – uma santa –, a irmã, uma
virgem, e a esposa, uma freira, todas as demais mulheres não prestam
e bem merecem ser comidas pelos mais variados tipos de machos
colocados à disposição no mercado.
Não é de estranhar que mais de 100 mil pessoas, provavelmente
a mulher do dentista, do médico ou do engenheiro estejam
estimuladas para cortar a cena do beijo, do estupro ou da masturbação
que aparece na novela. Por que, então, não mutilar os filmes?
Por exemplo, todos os do Fellini, rasgar os romances, contos e artigos
especializados em erotismo ou sexologia, cobrir de luto as
telas dos nus de Modigliani, botar sutiã na Vênus?

Por que não colocar os livros do Reich na fogueira inquisitorial?
Por que não questionar Freud? Por que não exorcizar Lacan?
Simples: por desconhecimento.
Se foram à escola, o que estudaram? Estiveram no curso normal
dos anos 50, nas aulas de economia doméstica restrita às receitas
de comidas e de tricot?
Sua grande emancipação teria sido pular da fogueira draconiana
dos pais opressores e irmãos vigilantes para o fogo infernal
do casamento, que durará até que a casa caia, sem alguma reflexão,
atuação ou escolha?
Quando lhes vêm uma sexóloga que lhes abre as portas elas
lhe viram a cara para não terem de olhar no fundo dos seus próprios
problemas a fim de solucioná-los um dia.
Gostaria de saber se houve 100 mil orgasmos, ou, para ficar
menos chocante, pelo menos um orgasmo por mulher, daquelas
que assinaram a lista.
Gostaria de saber qual poder de decisão cabe a elas no reino
doméstico, além da eventual compra da abobrinha e da bronca na
empregada.
Gostaria de saber quantos de seus filhos, por não terem sido
encaminhados para coisa melhor na vida, preferem os traseiros
em grande angular que as revistas especializadas oferecem, para
que eles, na sua incapacidade de análise gerada na criação que
tiveram, se satisfaçam de maneira doentia num voyerisme sem
precedentes.
Gostaria de saber se as mães deles chamam e são chamadas
para o ato com prazer, e se o consideram saudável?
Gostaria de saber se seus maridos não preferem secretamente
dormir com a secretária.

Gostaria de saber quantas trabalham, por que e se gostam do
que fazem.
Gostaria, enfim, de saber se elas desejam para as suas filhas a
perpetuação da opressão, se desejam maridos franco-atiradores (lato
e estrito senso) e cada vez menos vez na sociedade que elas mesmas
alicerçaram com a orientação, é claro!, de seus eternos patrões,
os homens.
Por isso, reivindicar a CENSURA é anular todo o processo de
libertação que os outros nos abrem; não é participar positivamente,
mas enterrar a sociedade e condená-la a um obscurantismo de inspiração
medieval com apenas 500 anos de atraso.
O que desejar a essas mulheres de Atenas?
Ora, que aproveitem a deixa da onda pseudodemocrática para
tomar uma posição libertária: durante o horário nobre, que desliguem
a TV e abram um livro; assim, no dia seguinte, ao invés de
discutirem o happy end da novela, marchem para um happy end
de seus próprios destinos.
Roberto, desculpe-me por não lhe ter enviado esta crônica na
hora certa.
Leitor, desculpe-me se saí da linha e deixei entrelinhas chocantes;

afinal, sou uma senhorinha bem mal comportada!

Wilma Schiesari Legris in CRÔNICAS E CONTOS CRUÉIS

terça-feira, 1 de outubro de 2013

GARGALHADA DE FILHO





  


Gargalhada de filho
estribilho
a perpetuar a espécie
verso aberto
musa ou prece
na partitura em estilhaço
se cala
na multidão
se perde
nos fogos de artifício
convive na surdina
como trégua de guerra santa
a dúvida e a incógnita perseguem
o bilu-bilu da coruja às escondidas
E o quebranto arca caída olho grande
Todos curados pelo raio?



Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaah



Uma grave gargalhada sacode
fecha os olhos
muda o embalo
cuidado!
O filho está grande e se ofende fácil
Agora a gargalhada
se confunde
na implosão da rocha sem garimpo
do tesouro
a descoberta gloriosa é um perigo
da primeira e profana gargalhada de um filho



Ahnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn




De uma só parábola
traduz milhões de páginas
de improviso
revela a cara etiqueta do avesso
às claras na correnteza
com exclusividade publicada sem medo
é de morrer por ela em pesadelos
pra viver em sonhos aprisionados
cada vez mais rápidos e fugazes
dentro da enigmática saudade







Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaa






Nos acordes místicos da gargalhada única
de um filho homem
convivem e vibram em harmonia
o protesto e os aplausos
e ironicamente agradam
ainda que sejam cínicos




haaannnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn




É a peça mais dramática
a sátira mais sábia
em permanente estréia
doce e acre
como batizado em atraso
na amarga ausência do padre

Em pleno mar nervoso
a gargalhada sangüínea
deságua na onda
desarma
e se dissolve 
do vermelho ao rosa
a imagem
canta suave e mansa
como a rainha do povo
em dia de oferenda
e de repente renasce manchada
espanta e assusta
num berro de homem ou demônio





uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu



Do oceano ou do poço
a gargalhada do filho
se levanta e se expande
no eco mais impressionante e belo
das igrejas barrocas
abafada pelo manto austero
de todos os santos
domina as feras
cega
acusa e perdoa
os monstros
durante a quaresma





avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaa



E do mais íntimo
aflora e se exala
bóia selvagem e morna
nas águas do exílio
e por cima de lágrimas e cacos poluídos
não perde a coragem
a gargalhada do querido filho


é fogo competindo
pra salvar as brasas
é ciência incrível e simples
como luz antes do grito
ressoa no escuro
raio estrelas diabo a quatro
a sacudir os sentidos que alívio
nasceu nasceu é um menino!


AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHA




Religiosamente
há muitos anos
pasmo ao som desta gargalhada estranha
a confundir meio mundo
tão minha nossa próxima mundana
às Marias condenadas e devassas
eu levanto a taça e brindo
a primeira ou a última
gargalhada de um filho




kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk




Marlene Vieira Perez - MPerez
Designer - Doug B.
Florianópolis, 16/11/89