quarta-feira, 17 de outubro de 2012

EVOLUÇÃO


(Gênero: Teatro)

Presente

Mais uma vez jogada na rua como um caroço de abacate
a polpa lá em casa passada no liquidificador Walita
completamente despida na superfície
era de abrir o chão
meros reflexos das mãos e das pernas

Balanço

Latejos contrações rebentos lances da semente
matéria esparsa película em retalhos...
Arranjo colagem capa ilustrada trama no arame farpado
avental estampado de slides.

Revolta histórica

A vítima da ação reconstitui o drama doméstico da última volta
conduzindo um carro alegórico. Estaciona em frente a um palanque
improvisado. Desliga-se da Brasília, esconde a chave e os documentos.
Promotor, críticos, jurados, multidão curiosa, blocos...Seria o momo
do juízo final?!
Ninguém de advogado. Enxame de pilatos.

Primeira evolução

De dentro dos copos sujos o reboque do esqueleto
sem alarme ibope guinchos
besuntado salgado de baba o verde defunto
em bagaços de fibra ataduras fachada do fruto
recolhido do lixo remendam fiapos de vida

Segunda evolução

A navalha de penetra afunda veterana sem ensaio brilha elimina a
estréia da esperança. Migalhas de creme espirram da máscara
em duas metades. O mingau na mesa sem um pingo de açúcar. A baga no
piso. Muitos risinhos de vaia.

Reviravolta

Cadáver humilhado não se enterra por desmaios. Descobre uma brecha
uma cova aberta num etecetera. Respira do fundo recria do nada
uma fábula escapa derruba o espaço agarra o tempo pelo pescoço
entra de hoje nem uma palavra. Estátuas cegas embalsamadas. Uma
samambaia faz sala. Anfitriã de consumo? Sorriso amarelo-limão.
Toda enxuta. Miss Vareta de plástica traída na queda en-ver-ga-da,
coitada! Horrível. Num transporte devasso a SURPRESA. A louça
lavada e seca dentro da máquina nova em silêncio automático.
A sua cozinha com ares arrogantes de vitrina do Mappin. Uma agenda!!?
No programa rodízio de pizza, espuma de Brahma. Milk-shake de
lambuja. Azia. Sal de fruta. Amanhã? Café no bar sabor ressaca,
almoço de cachorro burguês com todas as pintas latindo pedigree
no Shopping Center.

Fuga

Despacho definitivo e sem comentários. Tarde. Muito tarde? Atinge
a marginal. Treme fareja cobertura pela esquina. Sem referências
nem vantagens. Que dona louca? Que loucura dona! Miragens
de vira-lata sem fundo de garantia. Nem sinal da carrocinha. Cobaia
velha não suporta o avanço da técnica...saturada!? Nem mais filha
era...Só avó da puta! Vira vira a lata te vira te cobre sozinha dorme
morre MULHER! Mu-lher? Impasse. Controle remoto.

Mudança de cenário

A coragem na fila do enterro dos ossos.
Um lanterninha por milagre. Uma carneira vazia!!?
Reserva de fidalgo infeliz acomodado às direitas por cima da cara
metade feliz da vida finalmente? Uma fria!

Insight

A dignidade no redemoinho da arte
rodopia gira gira a imagem
traga por encanto a caveira dramática.
Renega a gaveta. Entra de alma na pele de um bom fantasma e baila
no ar, linda de morrer, a flor do abacate.

Marlene Vieira Perez - MPerez




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