
II
A vida inteira
tenta trocar de roupa
este espírito
sensível e irrequieto.
O vestido se
desbota velho puído nos cotovelos.
Bolero um rock
fantástico interno
às voltas na
década de 60 requebro-me
entro de ré em
50 na fuga estéril
do Gregório de
Barros. Masturbação violenta.
Lençol branco.
Cadeira de balanço.
Uma canastra em
resumo de mala
estourando
planos seculares e burgueses
1956 : A minha
figueira de muletas
da praça XV com
catedral aonde entro
cega de
grinalda tropeçando na cauda
por um fio de
meada no dedo
1970 : Chegava
em São Paulo, procedente de Florianópolis, hóspede
quando cassam
Santa Cecília com a igreja e o cinema
para eleger o
Minhocão machista
No chão maços
de poemas censurados e cigarros
Nem fósforo nem
cinzeiro
Quarto
compartilhado. Cunhadas de guarda.
Marido no
quarto da empregada.
Três filhos na
sala. Tudo apagado. Insuportável.
Aliança casada,
anel de grau solteiro
com cobra
envenenando a taça num abraço livre
tilintam os signos
no silêncio, comprometendo-me.
Relógio antigo
tic– tac de consciência
voa comigo ao
paraíso da insônia.
Currículo na
expectativa de nova algema. Dúvida
Na seta da vida
brilha a U.S.P. acadêmica. Coruja.
1980 : Façanha
inédita de poeta : professora pública efetiva em
todos os níveis
imagináveis.
Títulos ?
Vide prontuários megalomaníacos investindo contra as pastas
de papelão.
- Só ocupam
o armário e a sua cabeça, professora : não valem mais nada.
Comenta a
diretora terrivelmente realizada.
Só o tempo
conta ? Pra entrar aonde ?
Hoje os meus
poemas concisos saem do mofo
em
quilômetros, blocos de irmãos pródigos.
Escapam
desgarrados pela abertura sem espaço.
Muitos se
entregam às traças sem pé nem cabeça
caem do
elevado
num túnel de
três algemas
dorme um
mutilado. Primo rejeitado ? Quem sabe?
São Paulo, 25 de novembro de 1980.
Marlene Perez - Lene
Marlene Perez - Lene
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