sábado, 21 de junho de 2014

Escola Pública

Escola Pública
Abril de 79
Texto para o livro O trem da educação (reflexões em intervalos)

Sino Sino Sino
estridentes
conflitos
fila cativa
semblantes aterradores
suores
olhares pesados
raiva fome medo
rotina nos uniformes feios
puídos
encardidos
chamada chamada chamada
adultos bizarros atrofiados
escravos devastados
turmas esquálidas
trevas nas calçadas
filas filas filas
sentadas eternamente (pra quê?)
bocejos, pó de giz, odores agudos, acres
chamada chamada chamada
algazarra
cópias teóricas de aulas
De repente novidade asséptica
ficou para sempre na história
do “Leonardo Vilas-Boas”
                       - Hoje revista patética de piolhos!
Nem se falou mais do lanche de galinha
Berros berros berros
Ordens ordens ordens
Reflexão:      Como pode ser tão pequena,
frágil e infimamente submissa
essa clientela adolescente?
Banco banco banco
Castigo castigo castigo
Proscritos
Vou ter um enfarte já
cair de quatro
pensa uma ameaça exata de defunto
com cara de professor de matemática!?
- Aulas suspensas!
- Apagou a luz?
  Apagooou apagou.
  Velório improvisado
- Ótimo, gritava o coro
  com cara de enterro,
  coração de gelo.
-Aqui jaz ao cubo mais um mestre
  autêntico cadáver público
- Sino Sino Sino

Nem um minuto de silêncio

Marlene Vieira Perez - MPerez

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