Gargalhada de filho
estribilho
a perpetuar a
espécie
verso aberto
musa ou prece
na partitura
em estilhaço
se cala
na multidão
se perde
nos fogos de
artifício
convive na
surdina
como trégua
de guerra santa
a dúvida e a
incógnita perseguem
o bilu-bilu
da coruja às escondidas
E o quebranto
arca caída olho grande
Todos curados
pelo raio?
Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaah
fecha os
olhos
muda o embalo
cuidado!
O filho está
grande e se ofende fácil
Agora a
gargalhada
se confunde
na implosão
da rocha sem garimpo
do tesouro
a descoberta
gloriosa é um perigo
da primeira e
profana gargalhada de um filho
Ahnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
traduz
milhões de páginas
de improviso
revela a cara
etiqueta do avesso
às claras na
correnteza
com
exclusividade publicada sem medo
é de morrer
por ela em pesadelos
pra viver em
sonhos aprisionados
cada vez mais
rápidos e fugazes
dentro da
enigmática saudade
Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaa
Nos acordes
místicos da gargalhada única
de um filho
homem
convivem e
vibram em harmonia
o protesto e
os aplausos
e
ironicamente agradam
ainda que
sejam cínicos
haaannnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
em permanente
estréia
doce e acre
como batizado
em atraso
na amarga
ausência do padre
Em pleno mar
nervoso
a gargalhada
sangüínea
desarma
e se dissolve
do vermelho ao rosa
do vermelho ao rosa
a imagem
canta suave e
mansa
como a rainha
do povo
em dia de
oferenda
e de repente
renasce manchada
espanta e
assusta
num berro de
homem ou demônio
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
se levanta e
se expande
no eco mais
impressionante e belo
das igrejas
barrocas
abafada pelo
manto austero
de todos os
santos
domina as
feras
cega
acusa e
perdoa
os monstros
durante a quaresma
avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaa
aflora e se
exala
bóia selvagem
e morna
nas águas do
exílio
e por cima de
lágrimas e cacos poluídos
não perde a
coragem
pra salvar as
brasas
é ciência
incrível e simples
como luz
antes do grito
ressoa no
escuro
raio estrelas diabo a quatro
a sacudir os
sentidos que alívio
nasceu nasceu é um menino!
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHA
há muitos
anos
pasmo ao som
desta gargalhada estranha
a confundir
meio mundo
tão minha
nossa próxima mundana
às Marias
condenadas e devassas
eu levanto a
taça e brindo
a primeira ou
a última
gargalhada de
um filho
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Designer - Doug B.
Florianópolis, 16/11/89
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