terça-feira, 1 de outubro de 2013

GARGALHADA DE FILHO





  


Gargalhada de filho
estribilho
a perpetuar a espécie
verso aberto
musa ou prece
na partitura em estilhaço
se cala
na multidão
se perde
nos fogos de artifício
convive na surdina
como trégua de guerra santa
a dúvida e a incógnita perseguem
o bilu-bilu da coruja às escondidas
E o quebranto arca caída olho grande
Todos curados pelo raio?



Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaah



Uma grave gargalhada sacode
fecha os olhos
muda o embalo
cuidado!
O filho está grande e se ofende fácil
Agora a gargalhada
se confunde
na implosão da rocha sem garimpo
do tesouro
a descoberta gloriosa é um perigo
da primeira e profana gargalhada de um filho



Ahnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn




De uma só parábola
traduz milhões de páginas
de improviso
revela a cara etiqueta do avesso
às claras na correnteza
com exclusividade publicada sem medo
é de morrer por ela em pesadelos
pra viver em sonhos aprisionados
cada vez mais rápidos e fugazes
dentro da enigmática saudade







Avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaa






Nos acordes místicos da gargalhada única
de um filho homem
convivem e vibram em harmonia
o protesto e os aplausos
e ironicamente agradam
ainda que sejam cínicos




haaannnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn




É a peça mais dramática
a sátira mais sábia
em permanente estréia
doce e acre
como batizado em atraso
na amarga ausência do padre

Em pleno mar nervoso
a gargalhada sangüínea
deságua na onda
desarma
e se dissolve 
do vermelho ao rosa
a imagem
canta suave e mansa
como a rainha do povo
em dia de oferenda
e de repente renasce manchada
espanta e assusta
num berro de homem ou demônio





uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu



Do oceano ou do poço
a gargalhada do filho
se levanta e se expande
no eco mais impressionante e belo
das igrejas barrocas
abafada pelo manto austero
de todos os santos
domina as feras
cega
acusa e perdoa
os monstros
durante a quaresma





avemariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaa



E do mais íntimo
aflora e se exala
bóia selvagem e morna
nas águas do exílio
e por cima de lágrimas e cacos poluídos
não perde a coragem
a gargalhada do querido filho


é fogo competindo
pra salvar as brasas
é ciência incrível e simples
como luz antes do grito
ressoa no escuro
raio estrelas diabo a quatro
a sacudir os sentidos que alívio
nasceu nasceu é um menino!


AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHA




Religiosamente
há muitos anos
pasmo ao som desta gargalhada estranha
a confundir meio mundo
tão minha nossa próxima mundana
às Marias condenadas e devassas
eu levanto a taça e brindo
a primeira ou a última
gargalhada de um filho




kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk




Marlene Vieira Perez - MPerez
Designer - Doug B.
Florianópolis, 16/11/89

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