DEFESA DE MULHER EM TESE
(A uma platéia imaginária)
Devido aos compromissos da vida
carregada de responsabilidades na luta pela sobrevivência enquanto há tempo e,
ainda tumultuada pelos ruídos imprevisíveis do conviver que alteram as nossas
emoções com sérias conseqüências no nosso equilíbrio psíquico, físico e social,
a gente vai adiando uma conversa, um encontro. Conforme
o caso o telefone é inviável, meio muito útil para administrar a vida, pedir
socorro quando nos restam ainda condições de usá-lo, etc, também para um papo
rápido e amistoso, um apoio espiritual de um amigo íntimo ou matar as saudades
de um parente longe também é válido.
Diante de situações delicadas, o ideal
seria o diálogo, tête-à-tête, porque no fone a expressão, os gestos, o olhar
muito significativo se perdem. Olha-se o relógio, nos apressamos naquela
ansiedade, nos preocupamos com o preço dos impulsos e ao invés de resolvermos
os conflitos para um entendimento, agravamos o problema. A meada cheia de nós é
inevitável, difícil de recuperar inteira para remendar ou cerzir nossa imagem.
A face nova, desconhecida para os mais íntimos é a chave de um entendimento
pelo menos a curto prazo. Só temos esperança de um longo prazo com a confiança
gradativa que se solidifica em provas de lealdade, apoio num momento difícil.
Não é recomendado cobranças nem críticas, ninguém está disposto mesmo a pagar
impulsos emocionais pelo fone. Tentamos de cara ser objetivos, vamos logo no
centro da ferida para resolver rápido nossas decisões, atingindo a meta do que
é prioritário. Nada é considerado, só os fatos do momento colhidos na
superfície, através de intermediários que deturpam a mensagem com o seu
individualismo, sua interpretação, seus interesses. Por isso, o telefone é um
desastre, mas às vezes ainda o único meio quando a solução imediata se impõe.
Só que para provisoriamente quebrar um galho como o pára-raio do mundo pelas
próprias contingências de uma situação adversa, não se pode exigir decisões
definitivas pelo fone. Corremos o risco de abalar a estrutura de uma vida que
se construiu passo a passo. Todos têm a sua história, suas mágoas, seus
valores, suas perdas, seus ganhos, suas ingratidões, sua razão e querem
defendê-la com os argumentos a partir do seu foco narrativo, para ganhar a
questão, condenar ou absolver, enfim, ter causa ganha ou tese aceita para
atingir a finalidade de seus propósitos imediatos. Seguem só seus interesses
pautados por visões filosóficas subjetivas, fatos precários, influências
externas de lavagens cerebrais antigas e reforçadas por terceiros, que
alimentam o ódio gratuito e a vingança patológica até por uma criança inocente,
que aqui não cabe discutir, quem sabe no desfecho. Ouvem só um lado, o da
vítima que é o objeto imediato em causa, não ao direito nem chance ao réu,
principalmente ao telefone. Ninguém quer pagar impulsos de opositores e se dão
chance é à traição, na extensão mais barata, tudo muito certo como doutores
humanitários, cumprindo aquela ética à risca. Não se comprometem de
cara-a-cara. Eu não sei se isto me lembra o beijo de Judas, que trai com a boca
de outro, assim na retaguarda como grande cúmplice do crime a ser praticado
pelo mandante ou se me lembra Pilatos a lavar as mãos, omitindo-se
covardemente, em cima do muro, mas adorando atiçar a fogueira para salvar a
pele por recalques, inveja e ambição (isto me remete mais ao rábula). A turba
crucificaria Cristo independente de Pilatos, mas usar neutralidade foi a gota
decisiva a entornar a taça já cheia de fel e veneno de cobra; típicos do medo
na competição que pode levar ao sadismo de um crime bárbaro. Eu acho que me
lembram as duas personagens da história cristã dos dois samaritanos, só que não
posso distribuir os papéis por não ter sido testemunha ocular da trama. Quem
deu o primeiro passo? Quem teve a brilhante ideia? Realmente não sabemos quem é
quem.
Só sabemos
que um deles teve interesse, envolvimento mais direto para resolver o problema
porque a bomba estava em suas mãos e não teve o tato, a calma, o senso para
enfrentar a situação ouvindo as duas partes com espírito de solidariedade
imparcial. Deixou-se levar por questões pessoais antigas ou por ser o juiz do
jogo que torce por um dos times só naquela partida por estar jogando contra um
time que derrotou o seu em outra ou ainda aquele jogador brasileiro que se vê
na Itália ou em qualquer país estrangeiro, jogando por dólar contra a seleção
brasileira. Não se pode nem mesmo
desprezar o imigrante já enraizado no país estrangeiro, rodeado de amigos,
tomando uma cervejinha, assistindo ao jogo entre o time daquele país contra o
da sua pátria, meio expatriado, com mágoas porque santo de casa não faz milagre,
se lembrando só dos erros, das ingratidões, do suor derramado em vão, sem
reconhecimento, entre a cruz e a espada, sofrendo pressões de outra pátria
inimiga, influenciado pelas referidas lavagens intermináveis, sádicas,
maquiavélicas e neuróticas, lembrando só dos maus momentos e não do que a sua
verdadeira pátria fez por ele. A verdade se torna um deslize de emergência
necessário de sua pátria distante e desgovernada que acolhe saudosa em estado
de sítio, como um forasteiro para defendê-la e amá-la na ausência de um
governante legítimo, leal, empreendedor e amante fiel de longas batalhas
desprovido da guarda de confiança de seus filhos. Este crime não só apaga todos
os feitos gloriosos de sua pátria como a condena a pagar, a assumir todos os
outros da história a ela atribuídos. Por inveja? Por calúnia? Por ciúme de um
General cruel à la Franco com medo de perder o poder, as possessões, a cadeira
de ditador, carrasco de primeira? Este missionário usa da lógica como um
promotor que acusa um réu primário em liberdade condicional por todos os crimes
cometidos na cidade. Fica mais fácil, arquiva-se o processo e se dá por
encerrado, livrando-se da bomba. Realmente eu não queria estar na pele deste
missionário. Entre a cruz e a espada, a posição de Pilatos quase se impõe. Não
é fácil um Pilatos em cima do muro tomar decisões para julgar e condenar, um
mago, um líder ou um cisne. A tentativa é sempre válida, nunca é demais nos
desvirarmos e aceitar também o avesso do outro quando se despe de suas
aparências e valores. Devemos reconhecer nesta ação um ato de humildade que
deve ser ouvido e levado a sério. Esquecer um pouco a etiqueta e os
preconceitos sociais é importante quando comprovamos nos resultados que não se
deve adiar um papo, uma conversa ou um encontro para sempre. Nunca é demais
valorizar o sentir,
o radicalismo da certeza absoluta não existe, excluindo-se aqui, é evidente, os dogmas religiosos.
20/09/2007 - Fpolis - SC
Marlene Vieira Perez - MPerez
Beleza de blog. Ótimos textos! Parabéns!
ResponderExcluirJaime
Obrigada, amigo! Volte sempre e venha participar. Seja membro, comente, se sinta em casa.
ResponderExcluirCom amor, MPerez