quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

LUTO VIVO




LUTO VIVO

Cada noite a morte se avizinha
menos um dia
a arritmia na calada calma
de dedos cruzados
adentra ansiosa
no silêncio a cova
coruja aos pios
por ti suspira
esquecido  no mangue
invadido pelos cães farejadores
inimigos travestidos
não te iludas
tua sina se aproxima
sairão todos de guarda-chuva
óculos negros
horrendos viúvos alegres
e tu o extinto, sabes o que é isto?
com outra grife marca fantasia firma
remédio genuíno genérico tamanho família
para pagar às tuas custas
todas as drogas de vidas dissolutas e frívolas
a roda-moinho te engole vivo
jiboia cuidadora
será teu novo inquilino
não dorme no ponto morto
estão de olho na tua coberta
liberta a tua alma escrava coitada
sempre em vigília assustada
porque cada noite é a morte aos poucos
para todos
gargalha em vida
inverte o quadro
tu o fantasma macabro
e eu?
- s'il vous plaît,
vous voulez danser
avec moi la dernière?

Marlene Vieira Perez - MPerez - 24/05/2011

3 comentários:

  1. Magnífico... Não imaginei que relendo seria sempre inédito seu entendimento...

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  2. Muito profundo seu comentário e gratificante,coisa de mestre, realmente um poema bem aberto p várias leituras e visões...MPerez

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  3. Após três anos, relendo este poema consegui entender mais profundamente os últimos versos: o espírito liberto fora da matéria e ainda muito perturbado indaga:E eu? A matéria se incorpora e se divide e convida para uma última dança seu inquilino de muitos anos e dança sozinho para finalmente subir despido e livre. MPerez. 13/02/17

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