Ecos de um Regime...
Atenção!
Descoberta milionária! Se ligue, se ligue. Emagreça fácil com economia e
insight. Relâmpagos. Raios. Diabo a quatro. Trovoadas e trevas. Noite cerrada.
Boca fechada. Olhos abertos.
Exagere.
Arregale. Alucine. Viaje.
Suba nas paredes
e caia na rede. Na teia. Na intriga. Na aranha do Maquiavel. Do mosquito
esquálido. Desidratado. Da coruja piando, piando. Lobos uivando. Morcegos
sedentos. Casas mal-assombradíssimas. Complete o cenário e entre.
Fuga
espetacular. Sem fórmulas nem pílulas, academias, musculações, exercícios
repetitivos investindo em tendinites, alongamento com cara-de-pau-de-arara,
torturas de masmorras, solitárias, retiros, jejuns, penitências, castigos de
ditadura, agulhas, acupunturas.
Corridas sem
motivo nem destino nem glória, lá na Beira-Mar como idiota. Droga. Droga. Não
vire defunto antes da hora. Esqueça tudo. Decrete amnésia por conveniência, não
seja besta.
Do presunto,
só a alma, o fantasma horripilante, fétido, se decompondo aos berros. Medo.
Muito medo. Abuse dele em doses letais, fenomenais e se arrepie todo. Overdose
de frio. Calafrio. Trema. Trema, seu sem vergonha. Desde a espinha até onde
pode armado como um bode. Pernas bambas? Ótimo, ginástica espontânea.
Fim-de-semana
de spa? Nem pensar. Já esqueceu do último que lhe custou os olhos da cara e
você não emagreceu nada? HIV à solta com olhares de pomba, naquela piscina
contaminadérrima?
Sem falar na
passeata daquele campo de concentração pra se formar em antroposofia,
seicho-noie com mantras e incensos, de barriga vazia para elevar a sua alma com
a receita dos caras? Comida! As múmias gritavam em silêncio por trás das
máscaras soturnas. Um horror! Comida! Comida! Prática suicida. E a barriga?
Após o balanço e o banquete de fim de ano? No final das contas? Um pudim,
pedindo aquela lipo toda íssima de perigo e grana.
Garganta, meu
amigo, papo, papo. O do pescoço então é de dar dó às franjas da vovó! Sinal
evidente de radicais no pedaço? Livres? Não confunda.
Não se iluda,
meu chapa. Estamos condenados àquele menu miserável que nos irrita até as
células famintas. Mas não desista nunca, desgraçado! Você está agora
perambulando naquela casa do arco-da-bruxa. Entre no quarto. Tranque-se com Trancalar
tetra (durma só após o espetáculo). Grades e chaves Yale. Cadeado Pado! Pague
seus pecados. Segredos de estados. Alarme. Câmeras. Sensores. Painel
eletrônico. Banco blindado. Cofre e gaveta de usurário. Conhece Molière? Seja
clássico, intelectual, elegante. Tenha charme. Leia a obra completa do autor
francês. Nada de música caipira que dá vontade de comer galinha à cabidela,
molho pardo. Um fardo. Esqueça a campainha, o telefone, a vizinha e o perfume
da panela dela ali pelas sete da noite. Calma, calma, é apenas o guarda. Use
algodão no ouvido, no nariz e se deite como um condenado sem a última ceia.
Tudo a mão? Remédio da pressão se precisar. Bala light, guaraná diet e
chocolate? Não, não, têm cafeína. Cuidado com a osteoporose. Maracujina,
Pasalix podem. Não coma nada, absolutamente nada. Reviste tudo, o colchão, o
travesseiro, ácaros têm caloria. Cuidado com a rinite. Suba como um anjo sem
ranger de dentes nem ruída de unha porque engorda, seu boboca. E depois pega
mal, sorriso a meio-pau e dedo pitoco. Não esqueça: mão leve, à top model,
unhas enormes à madrasta da Branca de Neve ou a vampiro que se preze. Água,
muita água. Uma moringa é a medida... e disfarçando coloque embaixo da cama o
pinicão ridículo, herança de família. Não desça por nada. Fique por cima mesmo.
Que mania! E não se mecha. Brinque de mandrake, atalaia, guarda. Esqueça a
escada: cilada. E o tombo no escuro? Acender a luz? Bilolou de vez? E a multa,
seu otário? Escorregar tateando pra aquela geladeira apagadérrima? Nó cego. Nó
cego. Ser gordo é uma coisa, também ladrão é muita soma. E a sua dignidade? Por
terra no primeiro assalto? Cuidado com o gato e nem lebre pode. Vai devagar:
comer o pernil do porco resfriado no lugar daquela cenourinha vitaminada? Mais
um crime? Virou também assassino? E lá no endócrino, cardio, geriatra,
ortomolecular, homeopata, etc., todas aquelas pragas? Tem que rimar, tem que
rimar. Rima pode só com eles. E na festinha? Tem que dançar à moderninha:
lambada, rock, rap, reggae e escumbal, pagode, axé, macumba!... E ali na raça,
seu Zé, pra não fazer vexame. O pior mesmo é naquele churrasco, você enchendo a
pança com cara de madalena arrependida, xingando a comida de bosta. Vê se te
comporta. Idéia fixa, malandro? E o raio do respeito humano? Vê se te manca.
Fecha a boca e come escondido a ração de coelho, cheia de agrotóxico ou então o
caruru do pasto mesmo. Tem que pastar.
Mas vamos ao
que interessa. Chega de conselho, de aquecimento. Acabou descendo? Ascenda a
vela e suba correndo. Prontinho? Em posição de ataque? Deitadinho? Mortinho?
Vivinho? Um, dois, três. Partida. No vídeo se inicia um filme de terror. Tan, tan,
tan, tan... horripilante, pingando sangue. Borre-se de pânico. Drenagem. Bagaços, detritos e todos
os restos pra fora. Pra fora!! A pele da donzela? Uma rosa. Claro que você não
esqueceu do fraldão, do lençol de plástico adorável e daquela comadre chata da
maternidade. Você não é louco! E se o pastor do lado, a vizinha ou o padre
derem ouvidos ao eco de socorro? Socorro! E a cara de nojo? Terrível. Um homem
prevenido vale por mil. A fome agora está nos quintos dos infernos? Confere?
Esqueça o controle remoto. Nada de jogo, Jô, selecinha, etc, só servem pra
encher o saco de pipoca. Torça pela mocinha cega, virgem, paralítica. Grite.
Vibre. Chorar também pode. Rir é obrigatório para o quadro alucinógeno. E em seqüência
se convença de que o bandido periculosíssimo, cheio de taras freudianas de mãe,
armado de facas até os dentes, com mania de mágico do fantástico, quer fazer
você de alvo?!! E se encontra lá embaixo escondido atrás da geladeira-refém,
prontinho pra dar o golpe, enquanto a vítima lacrimeja em plena escuridão. No
cenário, o espírito das trevas, dos infernos de Dante ou da terra mesmo. Marcha
fúnebre ao fundo com procissão e tudo. Na mira Hitler, Lalau, o Lampião todo
aceso, o maníaco do parque e o bandido da luz vermelha de lanterna em punho,
fingindo-se de pirilampo, anjo noturno, salvador do mundo, luz de emergência. E
o desfile começa. Cague-se todo, mas não desça. Estão procurando um artista
vivo para fazer o papel de senhor morto na procissão e querem o máximo de
realidade, não preciso explicar e aceitam qualquer sexo. Senão conseguir um
senhor macho, vai gay ou mulher mesmo. Seus belos cachos vão por água abaixo.
Não se entregue pro miserável, vampiro atrasado, réplica de garanhão de filme
pornô, leão de chácara de boate gay, doublé de favela, atravessador de vídeo,
pirata de fita, cd, estuprador, tarado. E não me venha com desculpinha
esfarrapada de salvar a mocinha indefesa com cara de geladeira. O ritual deve
se repetir todas as noites durante o mês. Contrato de experiência. Surpresinha
na balança. Menos com menos? Deu mais saúde, elegância, beleza e economia pra
você, meu viciado compulsivo, viu? Cura sem nenhum sacrifício nem prejuízo.
Coragem e boa sorte. Não me espere que eu não volto mais com essa. Estou com
pressa, vou atrás de velas e passar na loucadora e comprar a fantasia completa
de bruxa da festa do Hallowen. Até a próxima.
Marlene- MPerez
– SP - 2001- Designer: H.Fontes